Audiência defendeu que o livro digital seja tratado como o impresso, mas isenção para e-readers ainda é controversa
07 de maio de 2014 | 2h 14
Representantes do mercado editorial e membros das comissões de Cultura e
de Educação da Câmara dos Deputados se dedicaram ontem a entender os
novos significados adquiridos pela palavra livro nos últimos anos,
especialmente com o desenvolvimento do mercado de livros digitais. Eles
se reuniram em audiência pública em Brasília para discutir o PL nº
4534/2012, que atualiza esse conceito e estabelece a lista de produtos
que poderiam ser equiparados ao livro - e que, assim, poderiam ter os
mesmos benefícios de isenção tributária que o livro em papel tem. A
inclusão do e-book nesse rol foi comemorada. A polêmica, porém, ficou
por conta da inclusão dos leitores digitais nesta lista. Entre os
debatedores e interessados na questão estavam Alex Szapiro,
vice-presidente da Amazon no Brasil, que vende o e-reader Kindle, e
Sérgio Herz, presidente da Livraria Cultura, que vende o Kobo.
NOTÍCIAS RELACIONADAS
- books no Brasil deve continuar, diz especialista
- Rui Falcão discute situação de Vargas com deputados
- Fifa ameaça proibir livro que revela fraude na venda de ingressos da Copa
- Após Prêmio Andersen, Roger Mello expõe no Japão e na Coreia do Sul
- Babel: Um reality show literário e o desafio de escrever com plateia
Para a relatora e deputada Fátima Bezerra, que deve preparar um parecer a
ser apresentado na Câmara, a desoneração do E-reader poderia ocorrer
por meio da Lei 11.196/05, conhecida por Lei do Bem, que dá incentivos
fiscais às pessoas jurídicas que realizarem pesquisa e desenvolvimento
de inovação tecnológica. Os tablets produzidos no Brasil, entre outros
equipamentos, já não precisam pagar o PIS/Cofins e tiveram redução no
IPI. A ideia é que a iniciativa torne os aparelhos de leituras mais
baratos e que eles ajudem a democratizar o acesso a livros no País.
Bezerra levantou a questão da Lei do Bem nos últimos minutos do debate
que durou cerca de seis horas.
"O
momento, agora, é de entender juridicamente o que significa a Lei do
Bem, que é muito ampla, e continuar pensando em ter um produto mais
acessível para o consumidor", comentou Szapiro ao Estado. Se o E-reader
tiver de ser produzido no Brasil, mesmo com incentivo fiscal, talvez
grandes players como a Amazon, que importam seu produto, não tenham
tanta facilidade em fazer aparelhos pelo preço que conseguem em outros
mercados como a China. "Precisamos mesmo estudar a lei, mas não acho que
a discussão agora seja sobre fabricar o produto no Brasil. O que
queremos é ver como podemos tornar o leitor mais acessível para a
população", reafirmou o representante da gigante americana que deve
iniciar, nos próximos dias, a venda de livros impressos no País.
O
debate só está começando. O projeto de lei em discussão ontem na
Câmara, de autoria do senador Acir Gurgacz, altera o artigo 2.º da lei
nº 10.753, de 30 de outubro de 2003, que institui a Política Nacional do
Livro. Segundo o novo texto, "considera-se livro, para efeito da lei, a
publicação de textos escritos em fichas ou folhas, não periódica,
grampeada, colada ou costurada, em volume cartonado, encadernado ou em
brochura, em capas avulsas, em qualquer forma ou acabamento, assim como a
publicação desses textos convertidos em formato digital, magnético ou
ótico, ou impressos no sistema Braille". Quanto a isso, houve consenso.
"Livro é conteúdo independente do suporte", simplificou Fabiano Piúba,
diretor de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas do Ministério da
Cultura.
Os
E-readers entram no texto da lei ao lado de fascículos, atlas
geográficos e álbuns para colorir e são assim descritos: "equipamentos
cuja função exclusiva ou primordial seja a leitura de textos em formato
digital ou a audição de textos em formato magnético ou ótico, estes
apenas para acesso de deficientes visuais".
Para
Karine Pansa, presidente da Câmara Brasileira do Livro, a discussão é
importante, já que possibilitará a uniformização do conceito. Ela
lembrou que cada estado trata do livro digital de maneira diferente.
"Temos que atualizar o conceito do livro e não existe dúvida com relação
à imunidade e remuneração. No entanto, existe preocupação com relação
ao suporte. Esse momento deve ser discutido de maneira mais ampla e
menos rápida. Vamos tomar decisões que vão comprometer o nosso mercado e
nosso acesso ao livro de maneira definitiva", comentou.
Participaram,
também, profissionais da cadeia do livro - editores, livreiros,
bibliotecários, etc. - e de órgãos públicos, como José Castilho Marques
Neto, secretário executivo do Plano Nacional do Livro e Leitura; Mônica
Franco, diretora da Divisão de Conteúdo Digital do Ministério da
Educação; e Fernando Mombelli, coordenador de Tributação da Receita
Federal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário